quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo


A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo

Análise da obra

A Moreninha é um dos principais romances brasileiros e seu autor, ao lado de Manuel Antonio de Almeida, José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio Azevedo e outros (poucos) é um dos mais importantes autores da língua portuguesa. Este livro, centrado no romance entre Augusto e Carolina, é um dos pilares de nossa literatura. Numa época onde a cultura era totalmente voltada para a Europa, A Moreninha é uma das primeiras e magníficas tentativas de fazer literatura brasileira, observando usos e costumes do Brasil do Segundo Império, retratando o cotidiano da vida brasileira em meados do século passado. Joaquim Manuel de Macedo (1820-1881) era médico, mas jamais exerceu a profissão, tendo dedicado sua vida à literatura, à imprensa e ao teatro. A obra retrata as características do movimento literário a que pertence à medida que possui espírito romântico (final feliz), nostalgia medievalista (indianismo), idealismo, culto à natureza, cristianismo (Festa de San’t Ana), sentimentalismo, linguagem popular e liberdade criadora. Retrata também  uma realidade fantasiada presente no autor.

Tempo / Espaço / Ação

O tipo de ambiente predominante é físico. Foram encontradas algumas descrições interessantes, a que mais nos agradou foi: "A Ilha de... é tão pitoresca como pequena. A casa da avó de Filipe ocupa exatamente o centro dela. A avenida por onde iam os estudantes a divide em duas metades, das quais a que fica à esquerda de quem desembarca, está simetricamente coberta de belos arvoredos, estimáveis, ou pelo aspecto curioso que oferecem. A que fica à mão direita é mais notável ainda; fechada do lado do mar por uma longa fila de rochedos e no interior da ilha por negras grades de ferro, está adornada de mil flores, sempre brilhantes e viçosas, graças à eterna primavera desta nossa boa Terra de Santa Cruz."

A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo linear - trinta dias. Os eventos narrados desenrolam-se durante os trinta dias pelos quais a aposta era válida. A aposta foi feita em 20 de julho de 1844, uma segunda-feira, e termina no dia do pedido de casamento, 20 de agosto do mesmo ano.

Existe um recuo ao passado. Quando a história se inicia, Augusto está no quinto ano de Medicina e conquistara, entre os amigos, a fama de inconstante. Nos capítulos VII e VIII, o autor conta-nos a origem da instabilidade amorosa do herói. Tudo começara há oito anos, quando Augusto contava 13, e Carolina 7 anos de idade.

Foco narrativo

O narrador, na verdade, é Augusto, pois perdeu a aposta feita com Filipe; mas é narrado na 3ª pessoa, por um narrador onisciente. Aqui e ali, ele se intromete um pouco na história, bancando o moralista.

A importância para a obra e a repercussão no leitor é que a utilização deste tipo de narrador causa o aprofundamento psicológico das personagens, o que não ocorreria se o narrador não fosse onisciente ou em 1ª pessoa. A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo cronológico pois ocorrem em três semanas e meia.

Temática / Crítica social

O tema da obra é a fidelidade ao amor de infância.

Como crítica social vemos o casamento, pois, na época o ajuste matrimonial era feito pelos pais dos jovens. A união dos filhos ganhava, pois, conotações de negócio indissolúvel, tratado com a seriedade dos adultos pensantes, conseqüência clara do amor arrebatador dos jovens; vemos também referência à escravidão embora sem grande relevo. Mas há, em A Moreninha, referência ao trabalho escravo e aos castigos corporais a que os negros eram submetidos.

Personagens

As personagens mais importantes são Augusto e Carolina. A personagem que mais chama atenção é Augusto que era um estudante de medicina alegre, jovial e inconstante em seus amores. O autor lhe confere complexidade já que no início da história o personagem é descrito de uma forma e no final dela é descrito de outra.

A personagem central é D.Carolina, menina de quatorze anos,  possuía cabelos negros, olhos escuros, era travessa, inteligente, astuta e persistente na obtenção de seus intentos. 
Enredo

O enredo apresenta unidade e organicidade pois a história possui início, meio e fim. O clímax do enredo ocorre quando D.Carolina revela a Augusto, ao deixar cair um breve contendo um camafeu, que é a mulher a quem ele tinha prometido se casar na sua infância. O desfecho dá-se no final da história.

Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando, quando  Filipe chegou e os convidou para passar um fim de semana na casa de sua avó  que ficava na Ilha de Paquetá. Todos ficaram empolgados,  menos Augusto.  Filipe comentou a respeito de suas primas e de sua irmã, que provavelmente  estariam na ilha. Foi quando surgiu uma discussão que deu origem a um  aposta; Filipe desafiou Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse  por  uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a escrever um romance sobre sua história.

Passaram-se quatro dias, Augusto recebeu uma carta, que lhe  foi entregue por seu empregado Rafael, a mando de Fabrício. A carta dizia  que o namoro de Fabrício com D.Joaninha  não estava indo muito bem, pois ela era muito exigente. Ela fazia-lhe pedidos absurdos como escrever quatro cartas por semana , passar quatro vazes ao dia em frente à sua casa e nos bailes ele teria  que usar um lenço amarrado em seu pescoço , da mesma cor da fita rosa presa a seus cabelos. Terminando a leitura, Augusto começou  a rir porque era ele quem sempre aconselhava Fabrício em seus namoros.

Na manhã de sábado, chegou à ilha e encontrou seus amigos, que  estavam a sua espera. Entrando na casa, se dirigiu à sala e se apresentou, em seguida foi procurar um lugar para sentar-se perto das moças. Foi então que ele se deparou com D.Violante, que lhe ofereceu um assento. Ela falou por várias horas sobre suas doenças, e perguntou o que ele achava.  Augusto já irritado de ouvir tantas reclamações, disse que ela sofria apenas de hemorróidas. D.Violante se irritou, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam.

Fabrício chegou interrompendo a conversa e chamou Augusto para um diálogo em particular. Os dois começaram a discutir sobre a carta, pois Augusto disse que não pretendia ajudá-lo  em seu namoro com D.Joaninha. Fabrício então declarou guerra  a Augusto.

Logo após a discussão, chegou Filipe chamando-os para o jantar. Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começou a falar em tom alto, dizendo que Augusto era inconstante  no amor. Ele, por sua vez, não respondeu as provocações, mas, na tentativa de se defender, acabou agravando ainda mais a sua situação perante todos.

Após o jantar, foram todos passear no jardim e Augusto foi isolado por todas as moças. Apenas  D.Ana aceitou passear com ele. Augusto quis dar explicações à D.Ana, mas preferiu ir a um lugar mais reservado. Ela sugeriu então que fossem até uma gruta, onde sentaram num banco de relva.

Começaram a conversar e Augusto contou sobre seus antigos amores e entre eles do mais especial, que foi aos treze anos, quando viajando com seus pais  conheceu uma linda garotinha de oito anos, com quem brincou  muito na praia, quando um pobre menino pediu-lhes ajuda. Eles foram levados a uma cabana onde estava um velho moribundo a beira da morte. Sua mulher e seus filhos estavam chorando. As crianças comovidas deram todo o dinheiro que possuíam à mulher do pobre velho. O velho agradeceu e pediu de cada um deles um objeto de valor. O menino deu-lhe um camafeu de ouro que foi envolvido numa fita verde e a menina deu-lhe um botão de esmeralda que  foi envolvido numa fita branca, transformando-os em breves. O camafeu ficou com a menina e a esmeralda com o menino.

Depois trocados os breves, o velho os abençoou e disse que no futuro  eles se reconheceriam pelos breves e se casariam. Foram embora e a menina saiu correndo de encontro a seus pais sem ter revelado o seu nome, e a partir  daquele momento nunca mais se viram. Acabada a história Augusto levantou-se para tomar água. Ao pegar um copo de prata foi interrompido por D.Ana que resolveu lhe contar a história da gruta, que era a lenda de uma moça  que se apaixonara por um índio que não a amava  e de tanto ela chorar, deu origem a uma fonte, cuja água era encantada. Disse também que quem bebesse daquela água teria o poder de adivinhar os  sentimentos alheios e não sairia da ilha sem se apaixonar por alguém. D.Ana explicou também que a moça cantava uma canção muito bela, quando de repente eles escutaram uma linda voz. Augusto perguntou a D.Ana de onde vinha aquela melodia e ela explicou que era Carolina que cantava sobre a pedra de gruta e ele ficou encantado.

Logo após o passeio, foram todos até a sala para tomar café e a Moreninha derramou o café de Fabrício sobre Augusto. Ele foi se trocar no gabinete masculino quando Filipe entrou e sugeriu que ele fosse se trocar no gabinete feminino, para que pudesse ver como era.

Augusto aceitou e enquanto se trocava, ouviu vozes das moças que iam em direção ao gabinete. Ficou apavorado, pegou rapidamente as roupas e se enfiou debaixo de uma cama. As moça entraram, sentaram-se e começaram a conversar sobre assuntos particulares. O rapaz ouviu toda a conversa e quase não resistiu ao ver as pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente. De repente ouviram um grito e Joaninha disse que a voz parecia com a de sua prima D.Carolina. Todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo e Augusto aproveitou para terminar de se trocar e saiu do gabinete para ver a causa daquele grito.

O grito era da Moreninha que viu sua ama D. Paula caída no chão, devido a alguns goles de vinho que tomou junto do alemão Kleberc. D.Carolina não queria acreditar que sua  ama estivesse bêbada e levaram-na para o quarto. A Moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício entraram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começaram a dar diagnósticos absurdos. D.Carolina só acreditou em Augusto e não aceitou o verdadeiro motivo do mau estar de sua ama. Todos saíram do quarto e se dirigiram até o salão de jogos. Augusto foi conversar com D.Ana e perguntou sobre o paradeiro da Moreninha. D.Ana disse que ela estava no quarto cuidando de sua ama. Augusto foi até até o aposento e chegando na porta viu uma cena inesquecível; ela lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele comovido se ofereceu para ajudá-la. Depois disso Augusto sugeriu que a deixasse repousar pois no dia seguinte estaria bem.

D.Carolina foi se trocar para em seguida ir ao Sarau, colocou um vestido muito bonito mas fora dos padrões normais, pois mostrava parte de suas pernas. Todos queriam dançar com ela e Fabrício  pediu-lhe a terceira dança, mas a garota mentiu dizendo que iria dançar com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa Augusto encontrou um bilhete que estava  em seu paletó, dizendo para ir à gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo era uma armadilha.

No dia seguinte, Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz que contou cada uma o que ouvira no gabinete. As moças ficaram revoltadas e depois de irem embora Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a contar a conversa dele com D.Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi por este motivo que Augusto ficou mais impressionado pois lembrou-se da lenda da fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela.

Depois de acabadas as comemorações, as pessoas voltaram para suas casas. Augusto não se cansava de contar sobre D.Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente visitar D.Ana, Augusto se encarregou dessa tarefa no domingo.

D. Ana foi recebê-lo e contou-lhe que D.Carolina estava triste até saber se sua vinda para a ilha. Durante o almoço Augusto viu um lenço na mão de D.Carolina  e adivinhou que ela o tinha bordado e após muita conversa D.Carolina resolveu ensiná-lo a bordar.

Depois do almoço, Filipe e Augusto foram jogar baralho, quando ouviram o chamado da Moreninha para a primeira aula de bordado. A lição acabou ao meio dia e Augusto achou prudente ir embora, despediu-se de todos e combinou com D.Carolina, que no domingo seguinte voltaria e traria o lenço já terminado.

No domingo seguinte, Augusto voltou até a ilha  e levou o lenço totalmente pronto, para que sua mestra pudesse o ver, ela não acreditou que ele fizera um trabalho tão bem feito e começou  a chorar, dizendo que ele tinha outra mestra. Augusto tentou explicar-se de todas as maneiras possíveis, e disse que o lenço fora comprado de uma velha senhora.

Depois de muita insistência a Moreninha aceitou a situação, pois D.Ana disse-lhe que sua atitude era infantil.

Depois do incidente Augusto chamou a Moreninha para um passeio e percebeu que ela estava um pouco nervosa, foi então, que ele perguntou-lhe se havia um amor em sua vida, ela respondeu com a mesma pergunta e Augusto disse que o grande amor de sua vida era ela. A Moreninha ficou imóvel e disse que o seu amor poderia ser ele.

Augusto voltou para sua casa e foi proibido de voltar à ilha por seu pai pois seus estudos estavam sendo prejudicados. D.Carolina não era mais a mesma desde a partida de Augusto que agora estava em depressão. Seu pai, vendo que estava prestes a perder seu filho, achou melhor que Augusto voltasse à ilha  e pedisse a mão da Moreninha em casamento.

Chegando próximo à ilha, viram a Moreninha cantando sobre a pedra, e ela ao vê-los ignorou-os. D.Ana foi recebê-los e o pai de Augusto explicou a situação se seu filho. Eles foram até a sala e de repente a Moreninha apareceu com seu vestido branco chamando a atenção de todos, foi então que o pai de Augusto fez o pedido diretamente a Moreninha, pois seu filho não tinha coragem o suficiente. A moça ficou assustada e disse que daria a resposta mais tarde na gruta mas D.Ana disse ao pai de Augusto que não se preocupasse, pois a resposta seria sim.

Augusto, ansioso, foi até a gruta e chegando lá encontrou a Moreninha, os dois conversaram e ela perguntou se ele ainda amava a menina da praia. Ele disse que não pois seu amor pertencia somente a ela. Ela disse que não poderia se casar pois ele já estava comprometido com outra pessoa. Irritado, ao sair da gruta foi surpreendido quando ela lhe mostrou o breve verde. Augusto não agüentou a emoção e pegando o breve ajoelhou-se aos pés da Moreninha, começando a desenrolar o breve reconhecendo o seu camafeu.

O pai de Augusto e D.Ana entraram na gruta e não entenderam o que estava acontecendo, acharam que os dois estavam malucos e Augusto dizia que encontrara sua mulher e a Moreninha por sua vez dizia que eles eram velhos conhecidos. Logo após Filipe, Leopoldo e Fabrício viram a alegria do novo casal, mas Filipe foi logo dizendo que já se passaram um mês, Augusto perdera a aposta e deveria escrever um romance.

Augusto surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se intitulava  A Moreninha.


Fonte:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/a

O Quinze - Rachel de Queirós – resumo

O Quinze - Rachel de Queirós – resumo


O Quinze - Rachel de Queirós – resumo
Adapt. De Renato Lima – resumos
Nome do autor:Rachel De Queiroz
Nome da obra:O Quinze
Data de início e término da leitura:
Momento histórico em a obra se insere:Em 1930
Breve resumo sobre o livro lido:O Quinze é baseado em uma historia que conta a vida triste da seca do nordeste onde Chico Bento e sua familia muda de cidade para procurar melhoras para nao sofrer por falta de agua e de fome
Primeiro Plano - Vicente e Conceição
O primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz é O Quinze. O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.
O enredo é interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste brasileiro. No interior do Ceará, na fazenda Logradouro, perto de Quixadá, Conceição fora passar suas férias com a avó, que chamava de mãe Nácia. Conceição não chegou em um momento muito feliz, pois a seca estava forte, matando a vegetação e os animais. Vicente, seu primo, que morava com seus pais e suas irmãs em outra fazenda, fazia esforços sobre-humanos para que o gado conseguisse passar pela seca sem que fosse preciso soltá-lo para que morresse longe, como muitos fazendeiros faziam, devido ao desespero. Eles se amavam, mas Conceição estava em dúvida, pois estava acostumada na cidade, havia estudado e Vicente não passava de um fazendeiro semi-analfabeto.
Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem.
Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a trata-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão.
As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.
Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
Segundo Plano - Chico Bento e sua família
Sem dúvida a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha.
No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
        "Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai.
        Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."
No Campo de Concentração, Conceição reconhecia muitas famílias, que moravam perto da fazenda de sua avó; um dia reconheceu seu compadre Chico Bento e sua família, que depois do desespero passado conseguira chegar à cidade; um dos filhos morreu envenenado, o outro desapareceu, sua mulher e o filho mais novo em estado lastimável. Conceição com muita pena, depois de ajudá-los, ficou com seu afilhado, que estava muito doente; tratou-o com carinho e conseguiu que ele se salvasse. Depois de muito desespero, muita fome, crimes cometidos, muito horror, choveu no Ceará.
Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
        "Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
O mais famoso livro de Rachel de Queiroz é mediano com alguns bons momentos.

As Três Marias (Rachel de Queiroz)

As Três Marias (Rachel de Queiroz)


 As Três Marias (Rachel de Queiroz). Maria Augusta perde a mãe muito cedo. O pai casa novamente e a madrasta, apesar de tratá-la decentemente, decide mandá-la para um internato, um colégio de freiras no Ceará... é aqui que a história começa...Como toda novata em um ambiente desconhecido, Guta sofre os olhares curiosos e comentários das veteranas. Tímida, envergonhada e pouco comunicativa, Maria Augusta sente-se sozinha, abandonada pelo mundo e a família, sem amigos, sem lar, sem o amor que tanto necessita. É no internato que ela passará grande parte da história - seu fim de infância e começo da adolescência - onde o mundo lá fora parece um sonho irreal, um planeta distante que só se ouve falar, mas nunca se consegue realmente ver."Na cama - tudo calado - (...) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro". (pag. 17)Maria da Glória e Maria José, complementam o trio que dá nome a história - e sugerido pela Irmã Germana, alusão à constelação das Três Marias (Orion) - em pouco tempo as três viram uma. Amigas confidentes, apesar de tão diferentes - personalidade, história de vida, vontades e desejos - e o leitor acompanha o desenvolvimento dessas três meninas, suas fantasias sobre o mundo lá fora, as dores, as decepções de vidas inexperientes, privadas de conhecimento exterior... acreditavam no amor dos livros, dos romances franceses que entravam às escondidas no colégio e passavam de mão em mão, tantos e tantos deles.Compartilhavam não apenas o tempo e as idéias, mas também amores... Maria da Glória, que aprendera a tocar violino com o falecido pai, tem a oportunidade de tocar com a orquestra do Teatro local. É lá que conhece e se apaixona pelo moço estrangeiro, seu primeiro amor, dividido e experienciado com a mesma intensidade pelas outras duas."Ele começou a namorar com Glória, logo que entendeu os olhos com que o olhava, e foi como se nos namorasse a todas, porque todas a três começamos a amá-lo, embora Maria José e eu nunca o tivéssemos visto". (pag. 58)Mas o tempo passa, elas crescem, e a vida fora do convento não é tão surreal quanto parece. O peso de ser gente grande é duro de carregar. O destino as levam para direções diferentes mas a amizade permanece e através das três percebe-se o tema que marca várias obras de Rachel de Queiroz - a representação da mulher na sociedade, seu papel. Glória casa bem, e logo é mãe. Maria José casa com sua religião enquanto leciona para crianças. Guta recusa-se a virar empregada da própria família, muda para a capital e vira datilógrafa, tem sede de aventuras, quer experimentar, quer deixar o cais.Os personagens secundários tem suas histórias começadas e terminadas praticamente no mesmo capítulo e esse foi um detalhe que eu gostei na obra de Rachel, não tem enrolação... não é preciso esperar ansiosa por capítulos e capítulos para saber no que acaba aquele fato. O cenário nordestino como pano de fundo me fez ter saudades dos meus meses de férias no Ceará... o sertão de Juazeiro, as viagens de ônibus por aquelas estradas de terras áridas, cactosas. A escrita é simples, narrado em primeira pessoa por Maria Augusta, o que permite que o leitor compartilhe seus sentimentos profundos, suas dores, suas curiosidades, fatos não compartilhados com Glória e Maria José. É um livro delicioso de ler, leitura rápida mas agradável, Guta demonstra força e iniciativa em muitos momentos decisivos em sua vida, mas acredito que a passividade em outros tantos momentos, alguns podem dizer inexperiência, evita que ela quebre o ciclo, tome o próximo passo. É como se ela não acreditasse nela mesma e deixasse as coisas correrem... a vida levar. E no final me peguei novamente querendo colocá-la no colo e abraçá-la apertado... 


Fonte:http://shipmadeofbooks.blogspot.com/2010/05/as-tres-marias-rachel-de-queiroz.html

A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água-Jorge Amado

A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água-Jorge Amado
A narrativa de A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água ambienta-se em Salvador, na época atual, e é apresentada por um interessante narrador em primeira pessoa, pois que é dotado de onisciência. Tudo gira ao redor de Joaquim Soares da Cunha, mais conhecido como Quincas Berro d’Água, apelido gerado pela reação explosiva e indignada ao ter bebido, por engano, água no lugar de cachaça, sua bebida predileta. Por aí já se pode imaginar de que tipo de personagem se trata. Essa idéia pode ser reforçada pelos apelidos que havia recebido: Rei dos Vagabundos da Bahia, O Cachaceiro-Mor de Salvador, O Vagabundo por Excelência, O Filósofo Esfarrapado da Rampa do Mercado, O Rei da Gafieira, O Patriarca da Zona do Baixo Meretrício.
No entanto, nem sempre teve tais predicados. Dez anos antes do início da narrativa, Quincas era funcionário exemplar da Mesa de Rendas Estadual. Levava uma vida respeitável, mas que lhe era sufocante, graças às pressões de uma formalidade vazia e inútil. O rompimento ocorre quando sua filha, Vanda, está para se casar com Leonardo Barreto, uma reprodução fiel do estilo de vida de Joaquim; a diferença é que o jovem está satisfeito com o que tem. Comunicado o noivado e apresentado o rapaz, Joaquim qualifica-o como um coitado. Vanda e Otacília (sua esposa) têm uma reação que é um misto de indignação e incompreensão. Inconformado, Joaquim chama o futuro genro de bestalhão e sua esposa (tão apegada às etiquetas) de jararaca. Sai de casa e transforma-se no Quincas Berro d’Água. Decai socialmente, pelo menos aos olhos de uma sociedade apegada à formalidade, mas encontra sua felicidade em meio a gente da classe baixa, comofamília, que não teve a capacidade de preparar um velório mais decente – não há comida, cadeira, conforto, nada.
Então, o fato inexplicável. Surge uma garrafa de cachaça. Não se sabia se havia entrado escondida ou se fora comprada depois, mas o consumo dela facilitou as exorbitâncias daquela noite. Começam a dialogar com o morto de forma desabrida, principalmente sobre quem seria o sucessor na posse do coração de Quitéria do Olho Arregalado. Fantasticamente, ou até mesmo por produto de bebedeira, ouvem a reação de Quincas diante de assunto tão abusado. Na crença, pois, de que não estava morto, de que tudo não passara de uma peça, iniciam um diálogo festivo com o “paizinho”. Dão bebida para ele. No final, tiram a roupa social e restituem a antiga. Joaquim voltava a ser o Quincas. Tiram-no do caixão e resolvem passear com ele, tudo num clima de magia surpreendente e festiva. A intenção deles é degustar a moqueca do Mestre Manuel, à beira do mar, junto aos velhos amigos de farra.
A viagem que fazem vai acordando do luto toda a Ladeira, antiga conhecida de Quincas. Até briga conseguem no bar do Cazuza, o que deixa o proprietário feliz, pois aumenta a reputação do estabelecimento. Mas o principal é que Quitéria reconquista sua alegria com o retorno de seu amado. Tudo é mágico. Tudo é encantado. Tudo é cheio de vida e alegria com a notícia de que o seu grande ídolo estava vivo.Contentes, partem para o mar, ambiente predileto do herói e local em que ele sempre manifestou ter desejo de ser enterrado. É uma noite idílica. No entanto, são surpreendidos por um temporal. Em meio à agitação furiosa das águas, depois de cinco trovoadas fortes, o que dizem ter visto foi Quincas levantar-se e atirar-se ao mar. Morria pela segunda vez, dessa vez justamente no ambiente que queria, adquirindo a liberdade que desejava.

Fonte>http://www.vestibular1.com.br/resumos_livros/a_morte_e_a_morte_de_quincas_berro_d_agua.htm 

As Três Marias (Rachel de Queiroz)

As Três Marias (Rachel de Queiroz).
 Maria Augusta perde a mãe muito cedo. O pai casa novamente e a madrasta, apesar de tratá-la decentemente, decide mandá-la para um internato, um colégio de freiras no Ceará... é aqui que a história começa...

Como toda novata em um ambiente desconhecido, Guta sofre os olhares curiosos e comentários das veteranas. Tímida, envergonhada e pouco comunicativa, Maria Augusta sente-se sozinha, abandonada pelo mundo e a família, sem amigos, sem lar, sem o amor que tanto necessita. É no internato que ela passará grande parte da história - seu fim de infância e começo da adolescência - onde o mundo lá fora parece um sonho irreal, um planeta distante que só se ouve falar, mas nunca se consegue realmente ver.

"Na cama - tudo calado - (...) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro". (pag. 17)
Maria da Glória e Maria José, complementam o trio que dá nome a história - e sugerido pela Irmã Germana, alusão à constelação das Três Marias (Orion) - em pouco tempo as três viram uma. Amigas confidentes, apesar de tão diferentes - personalidade, história de vida, vontades e desejos - e o leitor acompanha o desenvolvimento dessas três meninas, suas fantasias sobre o mundo lá fora, as dores, as decepções de vidas inexperientes, privadas de conhecimento exterior... acreditavam no amor dos livros, dos romances franceses que entravam às escondidas no colégio e passavam de mão em mão, tantos e tantos deles.

Compartilhavam não apenas o tempo e as idéias, mas também amores... Maria da Glória, que aprendera a tocar violino com o falecido pai, tem a oportunidade de tocar com a orquestra do Teatro local. É lá que conhece e se apaixona pelo moço estrangeiro, seu primeiro amor, dividido e experienciado com a mesma intensidade pelas outras duas.

"Ele começou a namorar com Glória, logo que entendeu os olhos com que o olhava, e foi como se nos namorasse a todas, porque todas a três começamos a amá-lo, embora Maria José e eu nunca o tivéssemos visto". (pag. 58)
Mas o tempo passa, elas crescem, e a vida fora do convento não é tão surreal quanto parece. O peso de ser gente grande é duro de carregar. O destino as levam para direções diferentes mas a amizade permanece e através das três percebe-se o tema que marca várias obras de Rachel de Queiroz - a representação da mulher na sociedade, seu papel. Glória casa bem, e logo é mãe. Maria José casa com sua religião enquanto leciona para crianças. Guta recusa-se a virar empregada da própria família, muda para a capital e vira datilógrafa, tem sede de aventuras, quer experimentar, quer deixar o cais.

Os personagens secundários tem suas histórias começadas e terminadas praticamente no mesmo capítulo e esse foi um detalhe que eu gostei na obra de Rachel, não tem enrolação... não é preciso esperar ansiosa por capítulos e capítulos para saber no que acaba aquele fato. O cenário nordestino como pano de fundo me fez ter saudades dos meus meses de férias no Ceará... o sertão de Juazeiro, as viagens de ônibus por aquelas estradas de terras áridas, cactosas.

 A escrita é simples, narrado em primeira pessoa por Maria Augusta, o que permite que o leitor compartilhe seus sentimentos profundos, suas dores, suas curiosidades, fatos não compartilhados com Glória e Maria José. É um livro delicioso de ler, leitura rápida mas agradável, Guta demonstra força e iniciativa em muitos momentos decisivos em sua vida, mas acredito que a passividade em outros tantos momentos, alguns podem dizer inexperiência, evita que ela quebre o ciclo, tome o próximo passo. É como se ela não acreditasse nela mesma e deixasse as coisas correrem... a vida levar. 

E no final me peguei novamente querendo colocá-la no colo e abraçá-la apertado...


Fonte:http://shipmadeofbooks.blogspot.com/2010/05/as-tres-marias-rachel-de-queiroz.html

O alienista - Machado de Assis

http://www.vestibular1.com.br/resumos_livros/o_alienista.htm


O alienista - Machado de Assis
            Eis um texto que está entre conto e novela, graças à sua extensão. Vale já pelo sabor de seu humor e ironia. Mas há que se ver na obra elementos típicos da produção realista de Machado de Assis, principalmente a análise psicológica e a crítica social.
Já foi dito que o mergulho machadiano na mente de suas personagens, montando um micro-realismo, torna-o cego para questões sociais. No entanto, o presente conto é prova de que no nosso grande escritor o que ocorre é a soma desses dois campos. A personalidade é influenciada por forças sociais; por sua vez, a sociedade é influenciada por razões psicológicas. Dessa forma, podemos entender a literatura machadiana como expressão de problemas psicossociais.
Dentro desse esquema, pode-se até enxergar uma semelhança entre o autor e o protagonista, Simão Bacamarte, pois, como alienista (entende-se por alienista o médico que se especializava em cuidar de problemas ligados à mente, algo como hoje seria o serviço de um psiquiatra), está preocupado em analisar o comportamento dos habitantes da cidade em que está instalado e como a conduta influencia as relações sociais.
O mais interessante é notar aqui o caráter alegórico, ou seja, representativo que a narrativa assume. Tudo se passa em Itaguaí, pequena cidade do interior do Rio de Janeiro, durante o período colonial. Cria-se um clima de “era uma vez, num lugar distante...” Dessa forma, o que se passa nessa localidade é o que no fundo ocorre em toda nossa civilização.
O protagonista, depois de títulos e feitos conquistados na Europa (pesar de suas ações aparentemente disparatadas, a personagem é alguém amplamente aceito pelo Estado), estabelece-se em Itaguaí com a idéia de criar um manicômio, que lhe seria um meio de estudar os limites entre razão e loucura.
No entanto, sua metodologia de estudo é que o diferenciará radicalmente de Machado de Assis. Em sua frieza analítica, Simão assumirá um tom tão rígido que acabará se tornando caricaturesco, falho e absurdo (parece haver aqui crítica ao rigor analítico do determinismo cientificista que andava em moda na literatura da época de Machado de Assis, principalmente a de aspecto naturalista). O problema é que o especialista vem investido do apoio oficial de todo o aparelho do Estado, o que faz alguns críticos enxergarem nessa obra não uma preocupação com a abordagem psicológica, mas uma crítica de alcance político. O conto seria, portanto, uma forma de questionamento contra o autoritarismo massacrante do sistema.
Os primeiros internados no hospício Casa Verde foram casos notórios e perfeitamente aceitos pela sociedade de Itaguaí. Mas começa a haver uma seqüência de escolhas que surpreendem os cidadãos da pequena cidade. O primeiro é o Costa, que havia torrado sua herança em empréstimos que se tornaram fundo perdido. O pior é que se sentia envergonhado de cobrar seus devedores, passando a ser até maltratado por estes. Depois foi a prima do mão-aberta, que tinha ido defender seu parente com uma mirabolante história de que a decrepitude financeira se devia a uma maldição (o mais hilário é que essa mulher fora ao hospício para defender o primo e, após contar tal história, acaba sendo na hora internada. Aumenta, aqui, o terror sobre uma figura tão déspota e traiçoeira como Simão Bacamarte, pelo menos na visão do povo de Itaguaí).
Após esses, é internado o albardeiro Mateus (profissional que faz albardas, ou seja, selas para bestas de carga. É uma profissão bastante humilde, tanto que a palavra albarda também significa “humilhação”. Há, portanto, uma carga negativa associada a essa profissão. Ter isso em mente ajuda na interpretação do episódio) , que se deliciava em ficar horas admirando o luxo de sua enorme casa, ainda mais quando notava que estava sendo observado. Essa personagem serve para que reflitamos questões como a valorização exagerada do status e até mesmo uma análise do preconceito, pois a maioria da cidade não aceitava um homem de origem e trabalho humilde possuir e ostentar tanta riqueza.
Apenas esses atos já foram suficientes para deixar a cidade em polvorosa. Assim, todos anseiam pela volta de D. Evarista, esposa de Simão Bacamarte, que havia ido para o Rio de Janeiro como maneira de compensar a ausência do marido, tão mergulhado que estava em seus estudos (é interessante lembrar a relação que o casal estabelece. 
Ela é extremamente apaixonada, algumas vezes dramática (se bem que o narrador deixa um tom de descrédito ao sempre afirmar que essa caracterização é baseada nos cronistas da época). Ele é frio, unindo-se a uma mulher não preocupado com sua beleza, mas com aspectos práticos, como a capacidade, o vigor para reprodução. Chega até a bendizer o fato de ela não ser bonita, pois seria menos dor de cabeça). Para os cidadãos, ela era a esperança de salvação daquele terror constante e aparentemente arbitrário. Por isso, a maneira festiva com que foi recebida.
No entanto, em meio a um jantar em homenagem à salvadora senhora, Martim Brito, um jovem dotado de exibicionismo de linguagem, faz um elogia um tanto exagerado: Deus queria superar a Si mesmo quando da concepção de D. Evarista. Dias depois, o janota estava internado.
Logo após, Gil Bernardes, que adorava cumprimentar todos, até mesmo crianças, de maneira até espalhafatosa, é confinado. Depois Coelho, que falava tanto a ponto de alguns fugirem de sua presença.
Pasma diante de aparente falta de critério, Itaguaí acaba tornando-se um barril de pólvora prestes a explodir. Aproveitando-se dessa situação, o barbeiro Porfírio, que há muito queria fazer parte da estrutura de poder, mas sempre tinha sido rejeito, arma um protesto com intenções revolucionárias (note que a questão pessoal (Coelho tinha negócios importantes com Porfírio que tinha sido interrompidos com a internação, sem mencionar o sonho por poder da personagem) é disfarçada em preocupações altruístas. Bem machadiano esse aspecto dilemático da realidade).
Depois de ter seu requerimento desprezado pela Câmara de Vereadores, une-se a vários outros descontentes. Há uma esmorecimento quando se descobre que Simão havia pedido para não receber mais pelos internos da Casa Verde. Configura-se a idéia de que as inúmeras reclusões não eram movidas por corruptos interesses econômicos.
No entanto, Porfírio consegue fôlego e institui uma insurreição, que recebe até o seu apelido: Revolta dos Canjicas. Vão até a casa do alienista, mas este os recebe, de sua sacada, de forma equilibrada e sem a mínima disposição em se demover de sua metodologia científica. A fúria, que tinha sido momentaneamente aplacada pela frieza do oponente, é instigada quando este lhes dá as costas e volta aos seus estudos.
Providencialmente, a polícia da época (dragões) surge, com a intenção de sufocar o levante. O mais espantoso é que, justo nesse momento em que o jogo parecia perdido para Porfírio, tudo se volta a seu favor: os componentes da guarda, provavelmente enxergando injustiça na ditadura científica, passam para o lado dos revoltosos. Era tudo o que o líder mais queria – poder absoluto.
Surpreendentemente (ou não), fortalecido, Porfírio esquece a Casa Verde e se dirige para a Câmara dos Vereadores para destituí-la. Senhor supremo, no dia seguinte encontra-se com o alienista, que já friamente (como de costume) esperava ser demitido. Impressionantemente, o novo governante afirma que não vai meter-se em questões científicas.
Configura-se aqui uma crítica a tantas revoluções que ocorreram na História e que estão por ocorrer. Entende-se que elas são na realidade movidas por interesses coletivos autênticos, mas que acabam sendo manipuladas e servindo de trampolim para que determinadas pessoas subam ao poder por outros motivos, mais egoístas.
Provavelmente todas essas idéias passaram na mente de Simão no momento em que Porfírio veio expressar-lhe apoio em seu trabalho sanitário. Tanto que pergunta quantos pessoas haviam morrido na revolução. São os dois casos que descobre como matéria de estudo. O primeiro é o fato de gente ter perdido a vida por um levante que tinha a intenção de derrubar a Casa Verde e agora tudo ficar esquecido. O segundo é o Porfírio antes se levantar ferozmente contra Porfírio e agora considerá-lo de extrema utilidade para o seu novo governo. O que virá daí já se sabe.
Dias depois, 50 apoiadores da revolução são internados. Porfírio ficou desnorteado, mais ainda porque um seu opositor, o barbeiro João Pina, levanta-se contra. Na realidade, este não estava interessado em questões sociais, mas tinha uma rixa pessoal com o outro barbeiro. Conseqüência: arma uma balbúrdia tamanha que acaba derrubando o Canjica.
Mas o novo poder não destitui a Casa Verde. Fortalece-a. Mais gente é confinada. Crispim, assistente e bajulador do alienista, que apóia Porfírio no momento que pensava que Simão havia caído. Depois o Presidente da Câmara dos Vereadores. O clímax deu-se quando a própria esposa do alienista, extremamente preocupada com jóias e vestidos, a ponto de não conseguir dormir por não saber como iria numa festa, acaba sendo internada. Ao mesmo tempo que era a prova de que Bacamarte não tinha intenções egoístas, pois até a própria consorte tinha se tornado vítima, tornava também patente a arbitrariedade a que Itaguaí estava submetida.
Certo tempo depois, como num feito rocambólico, a cidade recebe a notícia de que Simão determinou a soltura de todos os “loucos” da Casa Verde. Na verdade, o cientista havia notado que 75% dos moradores estavam confinados. Estatisticamente, portanto, sua teoria estava errada, merecendo ser refeita.
Esse recuo, além de demonstrar um rigor científico louvável, pois demonstra que o protagonista não está preocupado com vaidade, tanto que reconhece que erra, exibe mais elementos interessantes para a interpretação do conto. Pode-se dizer que exibe uma questão polêmica: quem é normal? O que segue a maioria? Se 75% apresentam desvios de personalidade, desvios do padrão (era essa, finalmente revelada, a regra que determinava quem era e quem não era são), então o normal seria não seguir um padrão. Fora essa questão polêmica, deve-se perceber a força que o Estado, por meio da Casa Verde (tanto é que mudavam os poderosos, mas o sistema continuava o mesmo), assumia em determinar quem estava na linha e quem não estava. Todos tinham de se encaixar a uma norma.
Enfim, dentro da nova teoria (louco era quem mantinha regularidade, firmeza de caráter), o terror recomeça. O vereador Galvão é o primeiro a ser internado, porque havia protestado contra uma emenda da Câmara que instituía que somente os vereadores é que não poderiam ser reclusos. Sua alegação era a de que os edis não podiam legislar em causa própria. A esposa dedicada de Crispim é também alocada na Casa Verde. 
O barbeiro fica louco. Um inimigo de Simão se vê na obrigação de avisar o alienista do risco de vida que o cientista corria. Por tal desprendimento, na hora acaba sendo confinado. Até Porfírio, volta a ser preso, pois, conclamado a preparar outra revolta, recusa-se, pois se tocou que gente havia perdido a vida na Revolta dos Canjicas para o resultado ser infrutífero. Ao ser preso, resumiu bem sua situação: preso por ter cão, preso por não ter cão.
Alguns casos são interessantes. Pessoas que se demonstram firmes em sua personalidade são consideradas curadas quando exibem algum desvio de caráter. Assim foi com um advogado de conduta exemplar que só não foi internado porque havia forçado um testamento a ter a partilha do jeito que queria. Ou então quando a esposa do Crispim xinga-o ao descobrir o verdadeiro caráter do marido.
Porém, fora esses casos, Simão vai percebendo que seu segundo método era falho, pois ninguém naturalmente tinha uma personalidade reta, perfeita. Com exceção dele próprio. É por isso que, após muita reflexão e muita conversa com pessoas notórias da cidade, principalmente o padre (que já havia sido internado), conclui que o único anormal era ele próprio. A despeito dos protestos de muitos, inclusive de D. Evarista, decide, pois, soltar todos mais uma vez e encerrar-se sozinho na Casa Verde para o resto de sua vida.


A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo

Fonte:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/a_moreninha 

A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo

Análise da obra

A Moreninha é um dos principais romances brasileiros e seu autor, ao lado de Manuel Antonio de Almeida, José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio Azevedo e outros (poucos) é um dos mais importantes autores da língua portuguesa. Este livro, centrado no romance entre Augusto e Carolina, é um dos pilares de nossa literatura. Numa época onde a cultura era totalmente voltada para a Europa, A Moreninha é uma das primeiras e magníficas tentativas de fazer literatura brasileira, observando usos e costumes do Brasil do Segundo Império, retratando o cotidiano da vida brasileira em meados do século passado. Joaquim Manuel de Macedo (1820-1881) era médico, mas jamais exerceu a profissão, tendo dedicado sua vida à literatura, à imprensa e ao teatro. A obra retrata as características do movimento literário a que pertence à medida que possui espírito romântico (final feliz), nostalgia medievalista (indianismo), idealismo, culto à natureza, cristianismo (Festa de San’t Ana), sentimentalismo, linguagem popular e liberdade criadora. Retrata também  uma realidade fantasiada presente no autor.

Tempo / Espaço / Ação

O tipo de ambiente predominante é físico. Foram encontradas algumas descrições interessantes, a que mais nos agradou foi: "A Ilha de... é tão pitoresca como pequena. A casa da avó de Filipe ocupa exatamente o centro dela. A avenida por onde iam os estudantes a divide em duas metades, das quais a que fica à esquerda de quem desembarca, está simetricamente coberta de belos arvoredos, estimáveis, ou pelo aspecto curioso que oferecem. A que fica à mão direita é mais notável ainda; fechada do lado do mar por uma longa fila de rochedos e no interior da ilha por negras grades de ferro, está adornada de mil flores, sempre brilhantes e viçosas, graças à eterna primavera desta nossa boa Terra de Santa Cruz."

A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo linear - trinta dias. Os eventos narrados desenrolam-se durante os trinta dias pelos quais a aposta era válida. A aposta foi feita em 20 de julho de 1844, uma segunda-feira, e termina no dia do pedido de casamento, 20 de agosto do mesmo ano.

Existe um recuo ao passado. Quando a história se inicia, Augusto está no quinto ano de Medicina e conquistara, entre os amigos, a fama de inconstante. Nos capítulos VII e VIII, o autor conta-nos a origem da instabilidade amorosa do herói. Tudo começara há oito anos, quando Augusto contava 13, e Carolina 7 anos de idade.

Foco narrativo

O narrador, na verdade, é Augusto, pois perdeu a aposta feita com Filipe; mas é narrado na 3ª pessoa, por um narrador onisciente. Aqui e ali, ele se intromete um pouco na história, bancando o moralista.

A importância para a obra e a repercussão no leitor é que a utilização deste tipo de narrador causa o aprofundamento psicológico das personagens, o que não ocorreria se o narrador não fosse onisciente ou em 1ª pessoa. A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo cronológico pois ocorrem em três semanas e meia.

Temática / Crítica social

O tema da obra é a fidelidade ao amor de infância.

Como crítica social vemos o casamento, pois, na época o ajuste matrimonial era feito pelos pais dos jovens. A união dos filhos ganhava, pois, conotações de negócio indissolúvel, tratado com a seriedade dos adultos pensantes, conseqüência clara do amor arrebatador dos jovens; vemos também referência à escravidão embora sem grande relevo. Mas há, em A Moreninha, referência ao trabalho escravo e aos castigos corporais a que os negros eram submetidos.

Personagens

As personagens mais importantes são Augusto e Carolina. A personagem que mais chama atenção é Augusto que era um estudante de medicina alegre, jovial e inconstante em seus amores. O autor lhe confere complexidade já que no início da história o personagem é descrito de uma forma e no final dela é descrito de outra.

A personagem central é D.Carolina, menina de quatorze anos,  possuía cabelos negros, olhos escuros, era travessa, inteligente, astuta e persistente na obtenção de seus intentos. 
Enredo

O enredo apresenta unidade e organicidade pois a história possui início, meio e fim. O clímax do enredo ocorre quando D.Carolina revela a Augusto, ao deixar cair um breve contendo um camafeu, que é a mulher a quem ele tinha prometido se casar na sua infância. O desfecho dá-se no final da história.

Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando, quando  Filipe chegou e os convidou para passar um fim de semana na casa de sua avó  que ficava na Ilha de Paquetá. Todos ficaram empolgados,  menos Augusto.  Filipe comentou a respeito de suas primas e de sua irmã, que provavelmente  estariam na ilha. Foi quando surgiu uma discussão que deu origem a um  aposta; Filipe desafiou Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse  por  uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a escrever um romance sobre sua história.

Passaram-se quatro dias, Augusto recebeu uma carta, que lhe  foi entregue por seu empregado Rafael, a mando de Fabrício. A carta dizia  que o namoro de Fabrício com D.Joaninha  não estava indo muito bem, pois ela era muito exigente. Ela fazia-lhe pedidos absurdos como escrever quatro cartas por semana , passar quatro vazes ao dia em frente à sua casa e nos bailes ele teria  que usar um lenço amarrado em seu pescoço , da mesma cor da fita rosa presa a seus cabelos. Terminando a leitura, Augusto começou  a rir porque era ele quem sempre aconselhava Fabrício em seus namoros.

Na manhã de sábado, chegou à ilha e encontrou seus amigos, que  estavam a sua espera. Entrando na casa, se dirigiu à sala e se apresentou, em seguida foi procurar um lugar para sentar-se perto das moças. Foi então que ele se deparou com D.Violante, que lhe ofereceu um assento. Ela falou por várias horas sobre suas doenças, e perguntou o que ele achava.  Augusto já irritado de ouvir tantas reclamações, disse que ela sofria apenas de hemorróidas. D.Violante se irritou, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam.

Fabrício chegou interrompendo a conversa e chamou Augusto para um diálogo em particular. Os dois começaram a discutir sobre a carta, pois Augusto disse que não pretendia ajudá-lo  em seu namoro com D.Joaninha. Fabrício então declarou guerra  a Augusto.

Logo após a discussão, chegou Filipe chamando-os para o jantar. Na mesa, após todos terem se servido, Fabrício começou a falar em tom alto, dizendo que Augusto era inconstante  no amor. Ele, por sua vez, não respondeu as provocações, mas, na tentativa de se defender, acabou agravando ainda mais a sua situação perante todos.

Após o jantar, foram todos passear no jardim e Augusto foi isolado por todas as moças. Apenas  D.Ana aceitou passear com ele. Augusto quis dar explicações à D.Ana, mas preferiu ir a um lugar mais reservado. Ela sugeriu então que fossem até uma gruta, onde sentaram num banco de relva.

Começaram a conversar e Augusto contou sobre seus antigos amores e entre eles do mais especial, que foi aos treze anos, quando viajando com seus pais  conheceu uma linda garotinha de oito anos, com quem brincou  muito na praia, quando um pobre menino pediu-lhes ajuda. Eles foram levados a uma cabana onde estava um velho moribundo a beira da morte. Sua mulher e seus filhos estavam chorando. As crianças comovidas deram todo o dinheiro que possuíam à mulher do pobre velho. O velho agradeceu e pediu de cada um deles um objeto de valor. O menino deu-lhe um camafeu de ouro que foi envolvido numa fita verde e a menina deu-lhe um botão de esmeralda que  foi envolvido numa fita branca, transformando-os em breves. O camafeu ficou com a menina e a esmeralda com o menino.

Depois trocados os breves, o velho os abençoou e disse que no futuro  eles se reconheceriam pelos breves e se casariam. Foram embora e a menina saiu correndo de encontro a seus pais sem ter revelado o seu nome, e a partir  daquele momento nunca mais se viram. Acabada a história Augusto levantou-se para tomar água. Ao pegar um copo de prata foi interrompido por D.Ana que resolveu lhe contar a história da gruta, que era a lenda de uma moça  que se apaixonara por um índio que não a amava  e de tanto ela chorar, deu origem a uma fonte, cuja água era encantada. Disse também que quem bebesse daquela água teria o poder de adivinhar os  sentimentos alheios e não sairia da ilha sem se apaixonar por alguém. D.Ana explicou também que a moça cantava uma canção muito bela, quando de repente eles escutaram uma linda voz. Augusto perguntou a D.Ana de onde vinha aquela melodia e ela explicou que era Carolina que cantava sobre a pedra de gruta e ele ficou encantado.

Logo após o passeio, foram todos até a sala para tomar café e a Moreninha derramou o café de Fabrício sobre Augusto. Ele foi se trocar no gabinete masculino quando Filipe entrou e sugeriu que ele fosse se trocar no gabinete feminino, para que pudesse ver como era.

Augusto aceitou e enquanto se trocava, ouviu vozes das moças que iam em direção ao gabinete. Ficou apavorado, pegou rapidamente as roupas e se enfiou debaixo de uma cama. As moça entraram, sentaram-se e começaram a conversar sobre assuntos particulares. O rapaz ouviu toda a conversa e quase não resistiu ao ver as pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente. De repente ouviram um grito e Joaninha disse que a voz parecia com a de sua prima D.Carolina. Todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo e Augusto aproveitou para terminar de se trocar e saiu do gabinete para ver a causa daquele grito.

O grito era da Moreninha que viu sua ama D. Paula caída no chão, devido a alguns goles de vinho que tomou junto do alemão Kleberc. D.Carolina não queria acreditar que sua  ama estivesse bêbada e levaram-na para o quarto. A Moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício entraram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começaram a dar diagnósticos absurdos. D.Carolina só acreditou em Augusto e não aceitou o verdadeiro motivo do mau estar de sua ama. Todos saíram do quarto e se dirigiram até o salão de jogos. Augusto foi conversar com D.Ana e perguntou sobre o paradeiro da Moreninha. D.Ana disse que ela estava no quarto cuidando de sua ama. Augusto foi até até o aposento e chegando na porta viu uma cena inesquecível; ela lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele comovido se ofereceu para ajudá-la. Depois disso Augusto sugeriu que a deixasse repousar pois no dia seguinte estaria bem.

D.Carolina foi se trocar para em seguida ir ao Sarau, colocou um vestido muito bonito mas fora dos padrões normais, pois mostrava parte de suas pernas. Todos queriam dançar com ela e Fabrício  pediu-lhe a terceira dança, mas a garota mentiu dizendo que iria dançar com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa Augusto encontrou um bilhete que estava  em seu paletó, dizendo para ir à gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo era uma armadilha.

No dia seguinte, Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz que contou cada uma o que ouvira no gabinete. As moças ficaram revoltadas e depois de irem embora Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a contar a conversa dele com D.Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi por este motivo que Augusto ficou mais impressionado pois lembrou-se da lenda da fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela.

Depois de acabadas as comemorações, as pessoas voltaram para suas casas. Augusto não se cansava de contar sobre D.Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente visitar D.Ana, Augusto se encarregou dessa tarefa no domingo.

D. Ana foi recebê-lo e contou-lhe que D.Carolina estava triste até saber se sua vinda para a ilha. Durante o almoço Augusto viu um lenço na mão de D.Carolina  e adivinhou que ela o tinha bordado e após muita conversa D.Carolina resolveu ensiná-lo a bordar.

Depois do almoço, Filipe e Augusto foram jogar baralho, quando ouviram o chamado da Moreninha para a primeira aula de bordado. A lição acabou ao meio dia e Augusto achou prudente ir embora, despediu-se de todos e combinou com D.Carolina, que no domingo seguinte voltaria e traria o lenço já terminado.

No domingo seguinte, Augusto voltou até a ilha  e levou o lenço totalmente pronto, para que sua mestra pudesse o ver, ela não acreditou que ele fizera um trabalho tão bem feito e começou  a chorar, dizendo que ele tinha outra mestra. Augusto tentou explicar-se de todas as maneiras possíveis, e disse que o lenço fora comprado de uma velha senhora.

Depois de muita insistência a Moreninha aceitou a situação, pois D.Ana disse-lhe que sua atitude era infantil.

Depois do incidente Augusto chamou a Moreninha para um passeio e percebeu que ela estava um pouco nervosa, foi então, que ele perguntou-lhe se havia um amor em sua vida, ela respondeu com a mesma pergunta e Augusto disse que o grande amor de sua vida era ela. A Moreninha ficou imóvel e disse que o seu amor poderia ser ele.

Augusto voltou para sua casa e foi proibido de voltar à ilha por seu pai pois seus estudos estavam sendo prejudicados. D.Carolina não era mais a mesma desde a partida de Augusto que agora estava em depressão. Seu pai, vendo que estava prestes a perder seu filho, achou melhor que Augusto voltasse à ilha  e pedisse a mão da Moreninha em casamento.

Chegando próximo à ilha, viram a Moreninha cantando sobre a pedra, e ela ao vê-los ignorou-os. D.Ana foi recebê-los e o pai de Augusto explicou a situação se seu filho. Eles foram até a sala e de repente a Moreninha apareceu com seu vestido branco chamando a atenção de todos, foi então que o pai de Augusto fez o pedido diretamente a Moreninha, pois seu filho não tinha coragem o suficiente. A moça ficou assustada e disse que daria a resposta mais tarde na gruta mas D.Ana disse ao pai de Augusto que não se preocupasse, pois a resposta seria sim.

Augusto, ansioso, foi até a gruta e chegando lá encontrou a Moreninha, os dois conversaram e ela perguntou se ele ainda amava a menina da praia. Ele disse que não pois seu amor pertencia somente a ela. Ela disse que não poderia se casar pois ele já estava comprometido com outra pessoa. Irritado, ao sair da gruta foi surpreendido quando ela lhe mostrou o breve verde. Augusto não agüentou a emoção e pegando o breve ajoelhou-se aos pés da Moreninha, começando a desenrolar o breve reconhecendo o seu camafeu.

O pai de Augusto e D.Ana entraram na gruta e não entenderam o que estava acontecendo, acharam que os dois estavam malucos e Augusto dizia que encontrara sua mulher e a Moreninha por sua vez dizia que eles eram velhos conhecidos. Logo após Filipe, Leopoldo e Fabrício viram a alegria do novo casal, mas Filipe foi logo dizendo que já se passaram um mês, Augusto perdera a aposta e deveria escrever um romance.

Augusto surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se intitulava  A Moreninha.


Fonte:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/a_moreninha

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"IRACEMA" - RESUMO E ANÁLISE DO LIVRO DE JOSÉ ALENCAR

"IRACEMA" - RESUMO E ANÁLISE DO LIVRO DE JOSÉ ALENCAR




Escrito em prosa poética, esse romance é um dos principais representantes da vertente indianista do movimento romântico e traça uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira
A narrativa de Iracema estrutura-se em torno da história do amor de Martim por Iracema.
Diferentemente do que ocorre em outros romances de José de Alencar, como O Guarani, o enredo de Iracema é aberto a interpretações. A relação entre Martim e Iracema significa a união entre o branco colonizador e o índio, entre a cultura européia, civilizada, e os valores indígenas, apresentados como naturalmente bons. É uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira.

Ainda menino, Alencar fez uma viagem pelo sertão. A experiência dessa viagem de garoto seria constantemente evocada pelo futuro escritor em seus romances, com imagens e impressões da exuberante natureza brasileira. Alguns espaços merecem destaque por ser palco de importantes acontecimentos desse romance: o campo dos tabajaras, onde fica a taba do pajé Araquém, pai de
Iracema; a taba de Jacaúna, na terra dos potiguaras (ou pitiguaras); a praia em que vivem Martim e Iracema e onde nasce Moacir.
IMAGENS E METÁFORAS
Uma das grandes habilidades de Alencar está em representar o pensamento selvagem por meio de uma linguagem cheia de imagens e de metáforas. Sabe-se que as sociedades que não avançaram no terreno da lógica argumentativa (que pressupõe noções científicas básicas) têm em contrapartida grande riqueza no plano mitológico. Elas se valem dos mitos e das histórias para explicar o mundo.
O pensamento do selvagem é imagético e, por isso, está muito próximo da poesia. Vê-se nesse ponto como o autor soube unir forma e conteúdo. De outro modo seria difícil caracterizar a linguagem do índio sem prejuízo da verossimilhança.
BASE HISTÓRICA A narrativa inicia-se em 1608, quando Martim Soares Moreno é indicado para regularizar a colonização da região que mais tarde seria conhecida como Ceará.

José de Alencar era leitor assíduo de Walter Scott, criador do romance histórico, e foi influenciado por esse escritor. Como em vários romances de Alencar, Iracema mistura ficção e documento, com enredo que toma como base um argumento histórico. Essa junção se deve também ao projeto de criação de uma literaturanacional, no qual Alencar e os demais escritores românticos do seu tempo estavam fortemente empenhados.

Ainda quanto ao aspecto histórico, que o autor levou em conta ao compor a obra, ressalte-se que os índios potiguaras (habitantes do litoral) eram aliados dos portugueses, enquanto os tabajaras (habitantes das serras cearenses) eram aliados dos franceses.
ENREDO A primeira cena antecipa o fim do livro, o que reforça a unidade da obra: Martim e Moacir deixam a costa do Ceará em uma embarcação, quando o vento lhes traz aos ouvidos o nome deIracema.

No segundo capítulo, a narrativa retrocede no tempo até o nascimento de 
Iracema. A personagem é então apresentada ao leitor: “Virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”. A índia é descrita como uma linda e excelente guerreira tabajara, “mais rápida que a ema selvagem”. Por isso mesmo, sua reação ao avistar o explorador Martim é desferir-lhe uma flechada certeira. Essa é também uma referência à flecha de cupido, já que, desde o primeiro olhar trocado pelos personagens, se percebe o amor que floresce entre os dois.

Martim desiste de atacar a índia assim que põe os olhos nela.
Iracema, por sua vez, parece atirar a flecha por puro reflexo, pois logo depois se arrepende do gesto e salva o estrangeiro, levando-o até sua aldeia.
Martim é recolhido à aldeia pelo pajé Araquém, pai de Iracema, e apresenta-se a ele como um aliado de seus inimigos potiguaras que se perdera durante uma caçada. O pajé o trata com grande hospitalidade e garante hospedagem, mulheres e a proteção de mil guerreiros.

Iracema oferece mulheres a Martim, que prontamente as recusa e revela sua paixão por ela. O amor de Martim é cristão, idealizado. O de Iracema também, mas por motivo diverso: ela guarda o segredo da jurema, por isso precisa manter se virgem. Esse é o estratagema que Alencar utiliza para transpor o amor romântico europeu às terras americanas. Uma índia, criada fora dos dogmas cristãos, não teria motivos para preservar sua virgindade.
AMOR PROIBIDO
As proibições reforçam ainda mais o amor entre a índia e o português. São as primeiras de muitas provações que tal união terá de enfrentar. Em linhas gerais, o romance estrutura-se no embate entre tudo o que une e o que separa os dois amantes.

Irapuã é o chefe guerreiro tabajara e funcionará, no esquema narrativo da obra, como um antagonista de Martim. Na primeira desavença entre os dois, o velho pajé Andira, irmão de Araquém, intervém em favor do estrangeiro. 
Iracema pergunta ao amado o motivo de sua tristeza e, percebendo que ele tinha saudade de seu povo, pergunta se uma noiva branca espera pelo seu guerreiro. “Ela não é mais doce do que Iracema”, responde Martim. Irapuã nutre amor não correspondido pela virgem e logo reconhece no português um inimigo mortal.

Iracema conduz Martim ao bosque sagrado, onde lhe ministra uma poção alucinógena. O guerreiro branco delira, e a índia adormece entre os seus braços.

Enquanto isso, Itapuã continua alimentando planos para se livrar do estrangeiro. O amor entre os protagonistas parece impossível de se concretizar, por isso Martim é coagido por 
Iracema a voltar para sua terra. Caubi, irmão de Iracema, acompanha-os. No caminho de volta, porém, são atacados por guerreiros liderados por Irapuã. Martim, Iracema e Caubi refugiam-se na taba do pajé Araquém, que usa de um truque para salvar o português da ira do chefe guerreiro.

Sucede-se o encontro amoroso entre Martim e 
Iracema, narrado delicadamente pelo autor. Martim está inconsciente por ter ingerido a bebida da jurema e a índia deita-se ao seu lado. A frase “Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras” é a sutil indicação de que a união amorosa se realizara.
Os acontecimentos que se seguem têm como pano de fundo a guerra entre potiguaras e tabajaras. Martim escapa de seus inimigos tabajaras e une-se aos vencedores potiguaras. 
Iracema, porém, sente-se profundamente triste pela morte dos entes queridos e não suporta viver na terra de seus inimigos.

O casal muda-se então para uma cabana afastada, localizada numa praia idílica. Com eles vai Poti, o grande amigo de Martim. Lá vivem um tempo de felicidade, culminando com a gravidez de 
Iracema e o batismo indígena de Martim, que recebe o nome de Coatiabo, ou “gente pintada”. Com o passar do tempo, contudo, o português se entristece por não poder dar vazão a seu espírito guerreiro e por estar com muita saudade de sua gente. A bela índia tabajara também se mostra cada vez mais triste.
Numa ocasião em que Martim e Poti saem para uma batalha, nasce o filho, Moacir. Quando os dois amigos voltam da guerra, encontram
Iracema à beira da morte. O corpo da índia é enterrado aos pés de um coqueiro, em cujas folhas se pode ouvir um lamento. Daí vem o nome Ceará, canto de sua jandaia de estimação, uma ave que sempre a acompanhava.
CONCLUSÃO Iracema, por amor a Martim, abandona família, povo, religião e deus. É uma clara referência à submissão do indígena ao colonizador português. Alguns dizem que o nome Iracema é também um anagrama de América.